O diagnóstico oncológico ainda é precário. Especialistas alertam: "Soluções necessárias para ontem"

A incapacidade de realizar exames de sangue moleculares em regime ambulatorial, diagnósticos incompletos no SOLO-3, burocracia excessiva e caminhos de tomada de decisão muito longos – esses são apenas alguns dos problemas identificados por especialistas. É crucial desbloquear o financiamento, simplificar procedimentos, introduzir um encaminhamento único para testes patomorfológicos e moleculares (condicionais) e restaurar a acreditação dos departamentos de patomorfologia. – Não podemos mais fingir que o diagnóstico molecular é um complemento. Esta é uma condição para um diagnóstico e tratamento eficazes – enfatizam repetidamente os especialistas.
– Logo no primeiro mês de funcionamento da Rede Nacional de Oncologia, já observamos entraves pontuais, principalmente na área de diagnóstico. Mas também sabemos o que pode e deve ser mudado - disse o Prof. Piotr Rutkowski, Presidente da Sociedade Oncológica Polonesa, abrindo a conferência online dedicada às necessidades sistêmicas mais urgentes.
A professora Beata Jagielska, diretora do Instituto Nacional de Oncologia – Instituto Nacional de Pesquisa, enfatizou que a necessidade de mudanças no diagnóstico não é nova – as demandas por financiamento e organização adequados de testes moleculares já são feitas há anos. Infelizmente, sua escala ainda é insuficiente. Conforme ela relatou, nos anos de 2017 a 2023, quase 41.000 testes foram realizados na Polônia. testes moleculares para câncer de pulmão, embora haja mais de 22.000 casos em apenas um ano e a maioria dos pacientes necessite desse diagnóstico. No câncer de ovário, a situação é ainda mais alarmante – com uma média de 4 a 5 mil. casos por ano, o número total de testes BRCA1/2 realizados durante esses anos não ultrapassou 10 mil.
- Não se trata apenas de acessibilidade. São necessárias decisões que permitam sua implementação rotineira e oportuna – de acordo com os padrões do tratamento oncológico. – destacou o prof. Jagielska.
A vice-ministra da Saúde, Prof. Urszula Demkow, admitiu que concorda com as demandas mais importantes da comunidade médica, incluindo: a necessidade de expandir o catálogo de benefícios para incluir testes CGP abrangentes para câncer de ovário ou garantir a possibilidade de realizar testes genéticos de sangue em regime ambulatorial. Ela garantiu que o Ministério da Saúde e a Agência de Avaliação de Tecnologias em Saúde e Sistema Tarifário já deram sinal verde. Regulamentos e ordens apropriados podem ser esperados em breve.
Referindo-se ao postulado dos especialistas para simplificar os encaminhamentos para testes moleculares, ela enfatizou que um único encaminhamento condicional para testes preditivos poderia ser emitido já ao solicitar um teste patomorfológico, mas somente ativado quando necessário. – O clínico e o patologista apertam o botão verde – e o encaminhamento é realizado.
Beata Koń, vice-diretora do Departamento de Análise, Monitoramento, Qualidade e Otimização dos Serviços do Fundo Nacional de Saúde, falou sobre o uso atual de testes moleculares e patomorfológicos na prática. Ela apresentou dados concretos: em 2023, 14.000 pessoas aproveitaram diagnósticos patomorfológicos adicionalmente financiados. pacientes, e já em 2024 – 31 mil, o que significa um aumento de mais de duas vezes. No caso dos testes genéticos, em 2024 eles foram realizados em 114 mil pessoas. pacientes, o que representa um aumento de 19% em relação ao ano anterior. As despesas do Fundo Nacional de Saúde em diagnósticos moleculares totalizaram PLN 252 milhões e em medicamentos oncológicos em programas de medicamentos – PLN 6,6 bilhões.
O Prof. Piotr Rutkowski comentou esses números sem euforia:
- Temos apenas 31.000 diagnósticos histopatológicos liquidados como benefícios separados – para mais de 180.000 novos casos por ano. Isso mostra quão baixa é a escala real de uso de diagnósticos – e quão limitado é o número de centros com acesso total.
O Prof. também falou. Renata Langfort, presidente da Sociedade Polonesa de Patologistas.
- Gastamos bilhões em tratamentos – e em diagnósticos, uma gota no oceano. Entretanto, o paciente deve ser diagnosticado corretamente para que a terapia seja eficaz, especialmente no caso de câncer de pulmão. Ela destacou que os exames patomorfológicos são reembolsados apenas para pacientes com cartão DILO e apenas em centros que passaram pelo credenciamento, que foi suspenso há quase 2 anos. Como resultado, temos pacientes com diagnóstico, mas sem avaliação da expressão de PD-L1, que é, afinal, a base para o uso da imunoterapia. Isso atrasa decisões terapêuticas e prejudica o paciente. – enfatizou ela.
Especialistas enfatizaram unanimemente que o diagnóstico molecular não é mais algo excepcional – hoje é um elemento de procedimento de rotina. - A pesquisa molecular não é mais uma atividade que deve despertar emoções. Este é um diagnóstico padrão que deve ser constantemente desenvolvido e adaptado às necessidades mutáveis dos pacientes – disse o Prof. Bartosz Wasąg, chefe da Clínica e do Departamento de Biologia Médica e Genética da Universidade Médica de Gdańsk.
O Prof. Wasąg observou que as disposições atuais relativas aos serviços de diagnóstico molecular precisam ser atualizadas, tanto devido ao desenvolvimento tecnológico quanto à disponibilidade de novas terapias. Ele destacou a necessidade de introduzir o chamado financiamento. teste genético abrangente (CGP), que permite uma ampla avaliação das alterações moleculares, independentemente da localização do tumor. Exemplos?
- Um paciente com câncer de estômago no qual detectamos uma fusão rara do gene NTRK3 – isso abriu acesso à terapia agnóstica. Ou cânceres com ponto de partida desconhecido – esses são candidatos típicos para CGP, mas hoje não temos uma solução sistêmica para eles, disse o professor.
Ele também enfatizou a importância da chamada biópsia líquida, um exame de sangue especialmente útil quando o material do tecido não está disponível ou é insuficiente para iniciar o diagnóstico molecular. - Esta é uma ferramenta que deveria estar disponível como padrão, mas hoje ela só pode ser usada para detectar uma mutação que determina resistência no gene EGFR.
O especialista também observou que técnicas modernas como o CGP (perfil genômico abrangente) não estarão disponíveis em todos os centros — e não precisam estar. Tudo o que você precisa são alguns laboratórios de alta qualidade e um sistema de encaminhamento de pacientes bem organizado. - A tecnologia está pronta. Agora precisamos de decisões sistêmicas que permitam que os pacientes se beneficiem disso. – resumiu o prof. Wasag.
Entre os estudos de crescente importância clínica está o perfil de HRD (deficiência de recombinação homóloga) no câncer de ovário – necessário para qualificar pacientes para tratamento com inibidores de PARP e, cada vez mais, também imunoterapia. A implementação do HRD como padrão em diagnósticos pode melhorar significativamente a eficácia das terapias e otimizar seus custos.
O Dr. Andrzej Tysarowski, presidente da Coalizão Polonesa para Medicina Personalizada, falou sobre a enorme importância das questões organizacionais para a eficácia e a velocidade do diagnóstico molecular. - Os coordenadores no KSO podem desempenhar um papel fundamental na otimização do fluxo de material entre o clínico, o patologista e o laboratório molecular. Em grandes centros onde tudo acontece sob o mesmo teto, funciona. Mas quando as instalações estão espalhadas, os problemas começam.
Uma das soluções já praticadas em alguns centros é a realização de encaminhamentos para exames moleculares simultaneamente ao encaminhamento para exames patomorfológicos. - Este modelo está em operação conosco desde 2017. O consentimento do paciente é obtido imediatamente, um conjunto completo de documentos é enviado para a circulação diagnóstica e, quando o patologista estabelece um diagnóstico que requer investigação adicional, o teste molecular pode começar sem atrasos desnecessários, disse o Dr. Tysarowski.
O especialista também destacou a necessidade de utilização dos chamados algoritmos e checklists que facilitariam o acompanhamento, pelos coordenadores, da execução dos testes necessários. E – igualmente importante – ele destacou que a qualidade do material do tecido tem um impacto direto na qualidade e viabilidade do diagnóstico molecular. - Os departamentos de patologia após a acreditação fornecem material de muito boa qualidade. No caso dos restantes, ainda temos problemas sérios – material mal fixado e fixado de forma inadequada impossibilita a realização dos testes.
O Dr. Tysarowski também enfatizou a necessidade de implementação rápida do CGP, especialmente em cânceres como câncer de ovário e câncer de pulmão, onde o número de biomarcadores e variantes genéticas necessárias para o diagnóstico está em constante crescimento. Ele também chamou a atenção para a necessidade urgente de viabilizar a realização de exames realizados em material fresco – especialmente sangue – em regime ambulatorial, sem necessidade de internação do paciente. - Hoje em dia, muitas instituições utilizam internações artificiais apenas para conseguir realizar um exame de sangue. Isso é absurdo, gera custos e atrasa o diagnóstico. Afinal, estamos falando de pacientes com câncer de mama, próstata ou pâncreas – no caso deles, é material fresco, não um bloco de parafina de arquivo, que fornece uma chance de identificar mutações da linha germinativa e iniciar um tratamento eficaz", explicou o especialista.
Concluindo a discussão, o prof. Dr. hab. n. médio. Beata Jagielska, diretora do Instituto Nacional de Oncologia – Instituto Nacional de Pesquisa. Suas palavras soaram como um apelo para traduzir a declaração em decisões específicas e mudanças sistêmicas.
- Há anos falamos da necessidade de financiar a pesquisa, mas seu uso ainda é insuficiente. Esses são números que falam por si. O especialista rejeitou firmemente as preocupações sobre o “desempenho excessivo” dos testes moleculares. - Não é um risco, é um mito. O problema não é o desempenho excessivo, mas o diagnóstico insuficiente. Hoje, o pagador incorre em custos desnecessários ao reembolsar terapias caras para pacientes que podem não ser devidamente qualificados. Por outro lado, pacientes que não recebem terapia, mesmo que pudessem se beneficiar, perdem. – ela argumentou.
Em sua opinião, ações paralelas são necessárias: por um lado, decisões formais sobre o financiamento e a organização do diagnóstico molecular e, por outro, controle e monitoramento eficazes para verificar se os pacientes são realmente encaminhados para os testes adequados.
- Não é mais hora para discussão. Devemos agir – como especialistas, como comunidade e como sistema. Porque mais atrasos na tomada de decisões não só resultarão em custos mais altos, mas também em perdas reais de saúde e humanas. – concluiu ela.
Atualizado: 13/05/2025 10:45
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